Ontem escrevi poemasNos canteiros do meu jardim.
Animada, afogueada, em alvoroço,Abraçada a vasos, folhas e pétalas,Inspirada ao aspirar o aroma silvestreDas flores, das plantas, da seiva,Declinei o lápis sedutor e o papel,Tomei a terra, o ancinho e a colher,Decidida, quebrei ressequidas ramagens,Exaltada, daninhas ervas arranquei,Ao solo me lancei, confiante, e mergulheiMinhas mãos, na terra fértil e gentil.
Tirei pedras e raízes, desenhei linhasDe promissores bolbos, enterradosSob o húmus revolvido e alisado.Sementes lancei, em métrica cuidada.Azáleas rimei com admiráveis ciclamens.Margaridas de fogosas vestes combineiCom amarelos narcisos em sono recatado.Confortei o cândido limoeiro e ergui, por fim,Para o céu, o corpo cansado e feliz,As faces coradas, o cabelo em desalinho,Acompanhando a aragem e o sol alaranjado
–Chave de ouro de outonal entardecer –No caminho luminoso do Poente.
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